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PORTINARI RAROS
CCBB Rio de Janeiro, 2022

Candido Portinari (1903-1962) foi talvez o mais profícuo artista brasileiro do século XX. Em seus quase quarenta anos de prática, criou mais de 5 mil obras e exercitou um virtuosismo nos pincéis que até hoje surpreende quem estuda sua obra. 

Em pesquisa no portal do Projeto Portinari, ao se debruçar sobre sua trajetória, descobre-se o domínio de um artista que se desafiou a entender a arquitetura da pintura de forma profunda e eloquente, e que usava o desenho como uma espécie de porto sobre o qual suas cores poderiam pousar.

Associado a certos matizes de cor e a um conteúdo figurativo levemente geométrico, existe um “estilo Portinari” que se fixou no imaginário popular brasileiro. Poucos tiveram a oportunidade de se impressionar com o conjunto de técnicas e linguagens que atravessam a diversidade de sua obra, revelado em imagens tridimensionais, abstratas, realistas e até em cenários e figurinos.

É nesse lugar mais investigativo que aparece um outro Portinari, que se distancia do muralista, dos azulejos, das pinturas épicas e do retratista de notórios contemporâneos. Surge, por exemplo, o homem político firme, capaz de, em 1942, desenhar uma desconcertante suástica sangrando sobre o Brasil. Uma linguagem comunicativa de Portinari que mostra outros lados de sua veia antifascista.

Para entender Portinari é preciso identificar a origem do seu traço: seu método de desenhar antes de pintar revela uma capacidade de trabalhar a forma antes das cores de maneira contundente. Alguns dos seus desenhos na exposição demonstram essa liberdade virtuosa. A mostra também contesta alguns falsos mitos de que Portinari não havia pintado nus, nem paisagens ou imagens abstratas. Mesmo que discretamente, toda essa variedade está presente em sua obra e nesta mostra.

Desenvolvemos alguns eixos para a exposição para trazer à tona esses aspectos mais raros de sua produção, como sua paixão pela fauna, pela flora, pela infância, seu flerte com a abstração e a fascinação que teve no final de sua vida pela imagem simbólica de uma indígena Carajá; além da sua incursão nos palcos, assinando cenários e figurinos para o balé Iara. Nessas salas trouxemos à luz obras singulares que permaneceram por décadas inacessíveis. 

Conclui a mostra o Carrossel Raisonné, uma instalação que criei em 2004 para apresentar a totalidade da obra do artista na forma de uma projeção contínua e cronológica, desfilando linearmente suas 5 mil obras por mais de oito horas consecutivas. Ver essa evolução, quadro a quadro, permite entender como diferentes estilos e ideias povoaram a mente de Portinari ao longo de sua vida. 

 

Candido Portinari (1903-1962) was perhaps the most prolific Brazilian artist of the 20th century. In his almost 40 years of practice, he created more than 5,000 works and exercised a virtuosity with paintbrushes that until today surprises those who study his work.

Through research on the Portinari Project portal, when looking at his trajectory, one discovers the mastery of an artist who challenged himself to understand the architecture of painting in a profound and eloquent way and who used drawing as a kind of harbor in which his colors could land.


Associated with certain shades of color and a slightly geometric figurative content, there is a “Portinari style” that has established itself in the Brazilian popular imagination. Few have had the opportunity to be impressed by the set of techniques and languages that permeate the diversity of his work, revealed in three-dimensional, abstract, realistic images and even in sets and costumes.


It is in this more investigative space that another Portinari appears, one who distances himself from the muralist, the tiles, the epic paintings and the portraitist of notorious contemporaries. For example, the unwavering politician in him appears in 1942, capable of drawing a disconcerting swastika bleeding over Brazil. A use of communicative language by Portinari that shows other sides of his anti-fascist vein.

To understand Portinari, it is necessary to identify the origin of his stroke: his method of drawing before painting reveals an ability to work with form before colors in a forceful way. Some of his drawings in the exhibition demonstrate this virtuous freedom. The exhibition also contests some false myths that Portinari had not painted nudes, nor landscapes or abstract images. Even if discreetly, all this variety is present in his work and in this exhibition.


We developed some themes for the exhibition to bring to light these rarer aspects of his production, such as his passion for fauna, flora, childhood, his flirtation with abstraction and the fascination he had at the end of his life with the symbolic image of an indigenous Carajá; in addition to his incursion on the stage, designing sets and costumes for the ballet Iara. In these rooms we brought to light unique works that have remained inaccessible for decades.

The Carrossel Raisonné concludes the exhibition, an installation I created in 2004 to present the entirety of the artist’s work in the form of a continuous and chronological projection, displaying his 5,000 works linearly for more than eight consecutive hours. Seeing this evolution, frame by frame, allows us to understand how different styles and ideas populated Portinari's mind throughout his life.

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