OURO | O Fio que Costura a Arte do Brasil
CCBB Rio de Janeiro, 2014
O ouro é um material que exerce enorme fascinação, em especial num país no qual sua presença foi tão significativa e transformadora. Desde o Barroco no período Colonial o ouro esteve ligado à conquista de liberdade, à expressão de fé e ao nascimento da nação. É um material que se associou a um desejo de busca e transformação, de desbravamento do território, e ao mesmo tempo de glamour e nobreza.
Artistas visuais Brasileiros em diferentes momentos da história tiveram o desejo de usar o ouro como matéria-prima – seja de maneira física ou simbólica – em suas obras. Essa exposição reúne a diversidade criativa da arte do Brasil costurada pelo material mais nobre que o subsolo Brasileiro já nos ofereceu.
Em um primeiro momento da exposição buscamos destacar o ouro como protagonista na poética de alguns artistas. O uso do material varia de sentido em cada uma das obras: em algumas delas o artista enxerga algo na cor e na luz douradas que atua de forma magnetizante sobre o olhar. Em outras obras a busca é por agregar um valor eterno que se traduz através do ouro. Em outras expressões o que entra em pauta é a sua maleabilidade e capacidade de responder formalmente ao desafio estético. Em outros ainda, o sentido histórico e social desse metal é que são evidenciados.
O ouro é um material sublime e definidor. Não é possível trabalhar com esse metal impunemente. Quando um artista se arma de ouro é para enfrentar um confronto firme com os limites de sua obra, tensionando valores e história. O ouro, infiltrado na arte, sempre acaba por transformar seu significado.
Um outro lado da exposição traz ao público peças que traduzem o flerte de artistas com o território da joalheria. Essas joias deslocam conceitos e propostas da prática artística para objetos a serem usados no corpo de alguém. Nesse momento é a arte que vem para mudar o sentido da joia. São poéticas pessoais, formas e atitudes que permitem que a joia se torne um veículo de expressão de um artista, mesmo que com uma funcionalidade explícita.
Esse jogo de valores é poderoso: por que a arte precisa do ouro e o quanto de arte pode se colocar de fato numa joia? O que o material articula como sentido próprio? O que ele transforma e no que ele pode ser transformado pelas mãos de artistas? Essa exposição é um encontro entre o belo e o conceitual, o precioso e o decorativo, o funcional e o orgânico, coisas diferentes porém que partem da mesma matéria. Caminhar por essa exposição é como vagar por um labirinto segurando um fio de ouro na mão, e ir com ele aos poucos costurando a exuberante pluralidade da arte feita no Brasil.
Fotos: Joana França